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Arquivo da UFF vive sob fogo cruzado enquanto reitoria ignora alertas

Foto do escritor: SINTUFFSINTUFF
Foto: Jesiel Araujo
Foto: Jesiel Araujo

A Coordenação de Arquivos da Superintendência de Documentação (CAR/SDC) da Universidade Federal Fluminense (UFF), localizada ao lado do Morro do Preventório, em Charitas, enfrenta uma situação crítica de insegurança há anos. Tiroteios, abordagens agressivas e ameaças são parte do cotidiano dos servidores, terceirizados e bolsistas que atuam na unidade. Os relatos de violência são recorrentes. As gestões da UFF ao longo dos anos ignoram os pedidos de socorro. Por questão de segurança, os nomes dos(as) entrevistados(as) serão preservados.

 

Servidores(as) produziram documento sobre a violência


A insegurança na região não é um episódio isolado. Conforme relatado em documento produzido pelos(as) servidores(as) da CAR/SDC, operações policiais frequentes tornam a presença no prédio uma verdadeira roleta russa. No dia 10 de fevereiro de 2025, uma grande operação policial resultou em intenso tiroteio na entrada da comunidade, assustando trabalhadores(as) e moradores(as). Este foi apenas um dos diversos eventos de violência registrados nos últimos anos. Confrontos armados resultaram em mortes na região, barricadas incendiadas e fechamento de vias essenciais para o deslocamento dos(as) servidores(as).

 

Relatos são estarrecedores


Em um dos casos mais graves, três servidores estavam dentro de um ônibus que foi incendiado por criminosos após uma operação policial. "Mandaram todo mundo descer e tacaram fogo no ônibus", relata uma servidora. "O caveirão chegou atrás do ônibus e o tiroteio começou. Ficamos no meio da confusão sem saber para onde correr", relembra um dos trabalhadores. "Eu presenciei servidor sendo abordado com a arma na cabeça ao chegar cedo no estacionamento.", afirmou o funcionário.


Servidores(as) relataram uma situação em que um dos vidros da Estação das Barcas de Charitas estava estilhaçado devido a um confronto entre policiais e criminosos. “No SBT Rio, o repórter falou que os bandidos atiraram de propósito no catamarã pra poder distrair a polícia”, mencionou um servidor. “Eu moro no Rio. Então eu posso pegar o catamarã. Nesse dia a gente chega e tinha vidro estilhaçado. Então eu poderia ser uma pessoa que está passando ali. Poderia ter acontecido algo grave com qualquer um de nós andando ali”, relatou uma servidora.


A localização do prédio torna os servidores(as) alvos do cenário de violência. O endereço fica próximo das entradas da comunidade, onde incursões policiais ocorrem com frequência. Muitas vezes, ao se dirigirem ao trabalho, os servidores entram no meio de confrontos armados. Segundo um dos depoimentos: "Já teve caso de colega sendo atropelado por moto durante fuga."


Os impactos psicológicos também são evidentes. Um servidor desabafa: "Eu já me considero doente. Eu preciso de ajuda psicológica. Todo dia que eu venho trabalhar, me pergunto: hoje vai ter tiroteio? Quem está aqui quer sair. Quem pode pedir remoção, pede. Mas a UFF não faz nada."

 

Protoloco de segurança reforça gravidade da situação


Apesar das constantes ameaças, a UFF não tomou medidas concretas para proteger os(as) trabalhadores(as). Servidores relatam que há anos enviam ofícios e pedidos à reitoria, solicitando a transferência para outro local ou, ao menos, a possibilidade de executar parte do trabalho remotamente ou em outra unidade da UFF. Em 2023, um protocolo de segurança foi elaborado pela equipe, contendo diretrizes para lidar com situações de risco, mas isso não resolve o problema central: a localização. "A gente só tem um protocolo porque não existe previsão para sairmos daqui", afirma uma servidora.


O Protocolo de Prevenção em Segurança, elaborado em parceria com o Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da UFF (InEAC/UFF), busca minimizar os riscos enfrentados pelos(as) trabalhadores(as) e garantir medidas emergenciais diante da violência. Entre as orientações do protocolo, está a recomendação de que servidores(as) permaneçam no primeiro pavimento do prédio durante confrontos, evitem áreas próximas a janelas e portas, e sigam procedimentos para evacuação segura quando necessário. Além disso, a implementação de canais de comunicação para monitoramento das condições externas e o estabelecimento de contato com instituições do entorno são indicados como medidas preventivas. No entanto, tais ações, embora necessárias, não eliminam a vulnerabilidade da unidade. A existência desse tipo de documento apenas reforça o disparate vivido pelos(as) trabalhadores(as), na qual os(as) trabalhadores(as) são submetidos a um risco não previsto para suas atividades profissionais e não remunerado com adicional de periculosidade. Beira a incredulidade que um documento desta natureza, com mais de dez páginas, tenha razão de existir. Nenhum(a) servidor(a) da UFF deveria trabalhar exposto(a) a este cenário bélico.


A estrutura do prédio também agrava a situação. Segundo os relatos, o telhado do prédio já foi perfurado por disparos e diversas obras emergenciais foram solicitadas sem sucesso. O terreno da unidade, que deveria ser um local seguro, é utilizado como passagem tanto por policiais quanto por criminosos, intensificando o risco. Como denuncia uma servidora: "O prédio nem tem identificação de que pertence à UFF. Parece que estamos abandonados."

 

Até quando?


Diante da impossibilidade de transferência imediata do acervo documental, os(as) trabalhadores(as) propõem que, pelo menos, a maior parte das atividades seja realocada para outros prédios da UFF. Essa medida atenuaria a exposição ao risco, permitindo que os(as) servidores(as) trabalhem em locais mais seguros e se desloquem ao arquivo apenas quando necessário.

Somando-se às dificuldades, há ainda a presença de uma pessoa em situação de rua morando na garagem da unidade. Segundo uma servidora: "Ele fica agressivo. Quebrou o vidro do carro de uma servidora. Já tentaram pedir assistência social, mas nada foi feito."


O silêncio da reitoria diante de tantos pedidos de ajuda é ensurdecedor. Servidores expostos a violência, ameaças, abalos psicológicos e insegurança estrutural seguem sem uma resposta concreta. A UFF precisa agir antes que seja tarde demais.

 

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