Tentativa de linchamento do SINTUFF atenta contra a liberdade sindical
Notas contra o SINTUFF e em desagravo ao reitor foram incentivadas pela reitoria em virtude de um outdoor divulgado pelo sindicato. As manifestações enxergam que o reitor sofre “injustiça” ao ser responsabilizado pelas cinco mortes de trabalhadoras do HUAP por Covid. A mensagem do outdoor, contudo, somente explica que as mortes confirmam ser o ambiente do HUAP insalubre em grau máximo e conclama o reitor a agir diferente de Bolsonaro, que nega a realidade: "100 mil mortes no Brasil. (Bolsonaro) negou a realidade e disse que era uma gripezinha. 5 mortes de trabalhadoras no HUAP. Reitor, não negue a realidade. Pague a insalubridade já".
Nos entristece que a comoção dos desagravantes não seja igual em relação aos trabalhadores contaminados e às trabalhadoras que morreram no HUAP. Adjetivos graves e exorbitantes são utilizados contra o SINTUFF tais como acusar a iniciativa do outdoor de “injusta”, “potencialmente criminosa”, “condenável”, “oportunista” e “absurda”. A mensagem do outdoor sequer chega a culpabilizar o reitor pelas mortes, apesar de haver diversos fatos que comprovam negligência por parte da gestão, como o não afastamento de servidoras do grupo de risco. Não há qualquer calúnia, mentira ou injustiça contra o reitor.
Entre os óbitos está, por exemplo, uma trabalhadora do setor de Nutrição, que estava com seu adicional de insalubridade zerado. A companheira era do grupo de risco. O vírus não respeita os limites do que é “ala Covid” no hospital. Outra trabalhadora tinha 72 anos, pediu afastamento e não teve o pedido atendido. Isso sim é potencialmente criminoso. Nos estranha a tentativa de criar uma falsa unanimidade em torno a uma visão na qual a administração não tem nenhuma responsabilidade pelas mortes, como se elas fossem fruto do acaso.
Liminar obtida pelo SINTUFF salvou vidas no HUAP
As mortes não foram em número maior devido a uma liminar obtida pelo SINTUFF afastando do trabalho presencial quem era do grupo de risco no HUAP. A reitoria tentou manter pessoas vulneráveis ao vírus em atividade ao recorrer da liminar. Essa postura sim é condenável.
Ao não conceder o grau máximo de adicional de insalubridade ao conjunto dos servidores ativos no HUAP, o reitor fecha os olhos para a realidade do hospital. Ao se ausentar de uma reunião com trabalhadoras do Antonio Pedro, com data e horário decididos pelo próprio, para participar de uma live, o professor Antonio Claudio manifesta descaso e desrespeito. Isso sim é desprezo pelos esforços dos servidores da UFF e do HUAP.
Injustiça é correr riscos sem receber adicional de insalubridade
A reitoria deveria concentrar suas forças em reparar a verdadeira injustiça que é manter trabalhadores em situação de risco sem receber o devido adicional. Na prática gasta energia em uma campanha autoritária para censurar uma crítica política, numa conduta que atenta contra a liberdade sindical. Além disso, subitamente o outdoor foi retirado, não sabemos por ordens de quem. Isso sim é uma atitude absurda, uma prática que cerceia opinião.
A indignação pela associação do reitor a Bolsonaro é desproporcional à realidade. Vamos aos fatos. O reitor da UFF chegou a emitir portaria criando uma assessoria militar na UFF. Censurou uma atividade na Faculdade de Direito com argumentos da ultradireita. A atual reitoria jamais emitiu posição contra o Future-se e cumpre fielmente toda norma emitida pelo governo. O reitor não é igual a Bolsonaro, mas colabora frequentemente com as políticas do governo. E em relação aos técnico-administrativos da UFF é até mais ligeiro que o governo na retirada de direitos, tais como a extinção das 30 horas e o ataque covarde à renda de centenas de aposentados, brecado judicialmente. As verdadeiras vítimas são os trabalhadores e não o reitor.
Com o aval do reitor, flexibilização quadriplicou mortes em Niterói
As notas em desagravo ao reitor distorcem a realidade exaltando seu suposto papel no combate à Covid. O reitor Antonio Claudio preside um comitê científico da prefeitura de Niterói que apoiou a flexibilização do isolamento social. Em maio, esse comitê assegurava que as mortes e contaminações estavam em queda. Mas o número de mortes mais que quadriplicou em Niterói. Antonio Claudio da Nóbrega avalizou uma política, questionada com razão pelo Ministério Público, que caminha na direção do negacionismo do governo federal. Isso sim mancha a nossa universidade, confundida de forma errônea com seu gestor máximo.
UFF e reitoria não são a mesma coisa
O reitor e a UFF não são uma coisa só. Tanto que a universidade tem posição contrária ao Future-se e o reitor não. Se fossem a mesma coisa, a UFF seria uma aplicadora da flexibilização do isolamento social. Não é. O reitor tem utilizado a universidade de forma ostensiva e perceptível para sua autopromoção e um assédio institucional pesado em seu desagravo, no intuito de esmagar críticas políticas e impulsionar sua imagem pessoal. Isso sim é oportunismo.
Ressaltamos ainda que as ações que a UFF desempenha no combate à Covid apenas são possíveis devido à defesa incansável da universidade pública pelos movimentos docente, estudantil e dos técnico-administrativos ao longo de décadas. Se dependesse da reitoria, nossa universidade estaria entregue à privatização, como fizeram com o HUAP ao entregá-lo à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, a base de cacetete e gás de pimenta.
As partes do texto em itálicos são menções a textos em desagravo ao reitor da UFF
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