A IX Marcha das Mulheres Negras ocorrerá no próximo dia 30 de junho, 10 horas, no posto 4 em Copacabana, no Rio de Janeiro. O SINTUFF, através de sua Coordenação, deliberou construir e participar deste ato público contra o racismo e toda forma de opressão e violência, como já é praxe todos os anos.
Realidade das mulheres negras não deixa dúvidas da combinação perversa existente no capitalismo entre machismo e racismo
(Fonte: CSP-Conlutas)
O dia 25 de julho é celebrado como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e, no Brasil, marca também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data visa resgatar a história de resistência das mulheres negras ao longo da história, bem como reforçar a necessidade da luta contra o machismo, o racismo e a exploração.
Afinal, a realidade das mulheres negras não deixa dúvidas da combinação perversa existente no capitalismo entre machismo e racismo. Uma situação agravada por séculos de escravidão e que se agrava cada vez mais em momentos de crise capitalista.
O 17° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na última quinta-feira (20), revelou o aumento da violência contra as mulheres em 2022, notadamente o crescimento de 8,2% no número de estupros. Ao se analisar o recorte racial, verifica-se que as mulheres negras são maioria entre as vítimas: 56,8%.
Na semana passada, outro fato trouxe mais um exemplo da opressão imposta às mulheres negras. A modelo negra Daniela Orcisse, de 35 anos, foi vítima de racismo na loja Águia Shoes, em Cidade São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. Daniela foi acusada de roubar a própria blusa!
Segundo depoimentos, uma cliente da loja fez a acusação ao gerente, que foi atrás da modelo quando ela já havia saído do estabelecimento. Posteriormente, funcionários reconheceram que erraram, alegando que o “protetor de zíper” da blusa de Daniela era semelhante aos utilizados na loja. Quando cobradas as imagens da câmera de segurança, a loja não forneceu.
Dupla opressão à serviço da exploração
Os dados da realidade escancaram que passados 135 anos da "farsa" abolição, a mulher negra ainda vive na base da pirâmide social e sofre a combinação do racismo e do machismo com diversas formas de violência. Constatamos desde a desigualdade social e exploração capitalista - sendo as mulheres negras as mais afetadas pelo desemprego, pela falta de moradia signa, pela precarização no trabalho, fome e miséria-, à violência e objetificação de seus corpos.
Daí ser fundamental a luta contra o machismo e o racismo, mas principalmente sob uma ótica de raça e classe, pois são as mulheres negras trabalhadoras, as mais pobres, que vivem nas periferias e ocupações, as mais afetadas.
No recente 4° Encontro de Negras e Negros da CSP-Conlutas, realizado de 14 a 16 de julho, foi discutida a importância da independência de classe no combate ao racismo e a situação das mulheres negras também esteve presente nos debates.
Uma das debatedoras da mesa “Raça, Gênero e Classe no Mundo do Trabalho”, Maristela Farias, do Quilombo Raça e Classe, resgatou a luta das mulheres negras e temas como a situação de estigma e invisibilização que recaem sobre elas, inclusive nos movimentos sociais.
“A luta da mulher negra é complexa. Estão em desvantagem, porque são desfavorecidas até mesmo no movimento negro e no movimento feminista”, afirmou ao falar sobre a desconsideração da existência do machismo no interior do movimento negro e a invisibilidade da mulher negra no movimento feminista. Maristela defendeu um processo de auto-organização das mulheres negras para pautas pertinentes que enfrentam no cotidiano e que não se restringem à questão do machismo.
Mulheres negras têm história
Se de um lado, a opressão recai com muita força sobre a mulher negra, o dia 25 de julho também remete ao resgate e reconhecimento do papel protagonista das negras nas lutas, movimentos sociais e culturais ao longo da história.
Um exemplo é a atividade guerreira que, desde os tempos coloniais, mulheres negras estavam à frente, dirigindo quilombos. Mulheres como Tereza de Benguela, Dandara e Luiza Mahin e muitas outras que mostraram que a luta contra o racismo é uma luta contra a classe dominante e nessa luta buscaram a unidade de classe com os indígenas e brancos pobres.
Tereza de Benguela foi lider do Quilombo Quariterê, que reuniu negros e indígenas escravizados no século 17, no estado do Mato Grosso. Tereza liderou por décadas a resistência do quilombo, tornando-se conhecida por suas habilidades como estrategista militar. Apesar da pouca representatividade na história oficial do país, Tereza é comparada ao líder negro Zumbi dos Palmares, a “Rainha do Pantanal” do período colonial.
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